sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O meu Rio em um fim de semana


Estava planejando ir ao Rio, subir até o Cristo e visitar alguns museus do centro. Tudo aparentemente bem simples. Só aparentemente, porque cada vez que via uma notícia sobre a violência de lá, desanimava e pensava: que raiva! Ninguém está vendo o que está acontecendo, ninguém vai fazer nada a respeito? Como os moradores de lá aceitam isso passivamente? Precisam ir para as ruas exigirem mudanças. 
Eu não via uma luz no fim do túnel! Mesmo assim eu não queria morrer sem conhecer o Cristo. Mas nem por isso eu queria perder a vida conhecendo-o.
Eis que surgem uma confluência de bons fatores que propiciam a minha tão sonhada viagem
São eles: 
  • aumento do policiamento nas ruas por causa das Olimpíadas; 
  • estadia bem localizada e acessível  economicamente por ter ido três dias antes do início do evento; 
  • férias de meio de ano; 
  • temperatura agradável do inverno, que facilitou as muitas andanças, que seriam sofríveis se fossem no verão.

Diante disso, estava resolvido: iríamos para o Rio. Veríamos o Cristo, andaríamos bastante pelo centro e pronto! Página fechada dessa estória. Nunca mais precisava voltar lá. Minha vida estava a salvo.
Eis que minha visão do Rio durante o passeio muda-se, e eu me apaixono perdidamente por ele. Ou seja, minha vida corre perigo novamente!
Já estou planejando a próxima visita. Haja coração!
Mas antes disso, vou contar um pouco do que vi e senti:
Resolvemos ir de ônibus pois ficamos com medo de nos perdermos caso fossemos de carro. Mesmo com tantos aplicativos de de GPS não quisemos arriscar. Vamos todos os anos a Barra da Tijuca, sem problemas, mas como o caminho era outro, ficou decidido que dessa vez seria de ônibus, e pronto. Ao chegarmos na rodoviária, pegamos um ônibus numa estação do lado de fora, bem em frente e que nos levou até Copacabana. Eu já sabia alguns números de ônibus e empresa que faziam o trajeto, mas mesmo para quem não sabe, é só perguntar lá mesmo que eles informam. Também sei que há um ônibus com ar condicionado que parte da rodoviária para Copacabana e Aeroportos. Como ele é um pouco mais caro deixei com segunda opção, caso o ônibus mais simples estivesse lotado ou estivesse muito quente. Coisa que não aconteceu. Chegamos bem rápido em Copacabana. Pedimos para parar na altura do Hotel Copacabana Palace, pois nossa estadia era numa cobertura exatamente atrás desse hotel. Muito bem localizado, o que facilitou muito os nossos deslocamentos. O apartamento que alugamos era muito bem decorado, moderno, amplo e confortável. Foi uma delícia voltar todos os dias dos passeios e ter um lugar tão agradável nos esperando.



Apê(foto Airbnb)




Apê(foto Airbnb)



Vista do apê


Neste mesmo dia fomos andar pela praia e depois pegamos um ônibus até o Shopping Leblon. Já estava tudo muito bem policiado e tranquilo. Havia bastante turistas andando pela orla. 
Eu já conhecia Copacabana, mas dessa vez achei ela mais linda ainda. É um praia maravilhosa. Tem uma curvatura linda, uma faixa de areia imensa, toda reta e branca. É impressionante! Parece que foi escupida pelo homem. Para ter uma ideia do que falo é só visitar a praia de Ipanema logo a frente é comparar. Por falar em Ipanema, fiquei surpresa com a fama desse bairro! Não achei nada de mais, o  bairro de Copacabana é muito mais bonito, conservado, amplo e chic. A praia, o calcadão as amplas ruas dão de 10 a 0. Longe de mim querer diminuir nenhum bairro, só quero enaltecer o quão superior é o Bairro de Copacabana.
Na manhã seguinte tínhamos planejado ir ao Cristo Redentor, mas como amanheceu com muitas nuvens e isso atrapalharia nossa visibilidade, resolvemos deixar esse passeio para o domingo e fomos para o centro visitar alguns museus.
Aproveitamos que nossa localização nos favorecia e pegamos o metrô na estação Arco Verde, que fica bem próxima da rua Barata Ribeiro, exatamente atrás de onde estávamos. Seguimos com destino à estação Uruguaiana, que é a que nos deixava mais próximos do CCBB, um dos locais que queríamos visitar. No trajeto da saída do metrô até o CCBB, fomos agraciados com a visão da belíssima igreja da Candelária. Internamente ela parece bem conservada, do piso, as pinturas passando pelos bancos tudo lindo, apenas do lado de fora e no seu entorno é que deveria ser restaurado ou valorizado. Ficaria lá por mais tempo, admirando, se não tivesse já com outros lugares para conhecer, mas com certeza gostaria de retornar à essa maravilhosa igreja.



Cúpula da Candelária



Candelária



Candelária



Candelária



Já feliz por essa surpresa no caminho, segui para o CCBB que é a menos de 50m, com o objetivo de visitar a exposição O Triunfo da Cor, com 75 obras de 32 artistas que retratam o Pós-Impressionismo e vieram do Musée d'Orsay, e do Musée de L'Orangerie. Essa mesma exposição já havia sido apresentada em 2015 em Barcelona e agora estava aqui. Que privilégio poder tê-la em meu país, com entrada franca, disponível a todos. Foi uma emoção e tanto! Ao final adquiri um livro que me ajudou a entender e apreciar ainda mais o Neo-Impressionismo. Reservei um trecho de uma carta de Vincent Van Gogh a seu irmão Theo, que representa bem o que mais me tocou nesta exposição:
"Servir-se sempre inteligentemente dos belos matizes que as próprias cores formam...isso é diferente do que copiar mecanicamente, servilmente, a natureza". " A cor expressa por si só alguma coisa; não se deve ignorá-la, devemos nos servir dela; aquilo que é belo, simplesmente belo, também é correto".
Vou por vontade própria colocar inúmeras fotos de várias obras que mais gostei. É uma faculdade a todos diante disto manter os olhos abertos ou cerrados.



Vincent van Gogh(1853-1890)
Fritilárias coroa-imperial em vaso de cobre(1887)


Maxilien Luce(1858-1941)
Henri-Edmond Cross(1898)


Achille Laugé(1861-1944)
Vista da Gardie, perto de Cailhau(1902)


Maximilien Luce(1858-1941)
Batedores de estacas(Entre 1902 e 1903)


Hippolyte Petitjean(1854-1929)
Mulher jobem em pé(1894)


Vincent van Gogh(1853-1890)
As caravanas, acampamento de boêmios nos arredores de Arles(1888)


Vincent van Gogh(1853-1890_
A italiana(1887)


Édouard Vuillard(1868-1940)
Auto-retrato octogonal(1890)



Aristide Maillol(1861-1944)
Perfil de Mulher(1896)



Édouard Vuillard(1868-1940)
Félix Vallotton(1900)


Paul Gauguin(1848-1903)
Mulheres do Taiti(1891)


József Rippl-Rónai(1861-1927)
Soldados franceses em marcha(1914)



Após a exposição fomos tomar um cafezinho no restaurante e lanchonete do CCBB e decidimos seguir à pé, pela rua Primeiro de Março, até o Palácio Tiradentes, onde funciona a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. A construção é belíssima,  e tivemos a oportunidade de seguir em um tour pelas suas dependências, acompanhados de um guia muito conhecedor daquele local e de sua inserção na história do estado e do país.
Andando pelo centro pude ver inúmeras e belas construções. Algumas de tirar o fôlego e outras singelas, mas mesmo assim belíssimas. Como a que se vê a seguir:...



Centro do Rio


Centro do Rio


Gostaríamos de ter entrado no Teatro Municipal, como já havia planejado, mas chegamos tarde e o horário de visita já havia terminado. Mesmo assim pudemos ver a recente restauração externa do prédio. Ele está lindíssimo!



Teatro Municipal


Aproveitando que estávamos a poucos metros do Museu Nacional de Belas Artes, fizemos um visita. Já o conhecia e pude rever algumas das maravilhosas obras de sua exposição permanente, além de outras novas, como o lindo auto-retrato de Tarcila do Amaral




Candido Portinari(1903-1962)
Purgatório(1944)


Candido Portinari(1903-1962)
A primeira missa no Brasil(1948)


Victor Meirelles(1832-1903)
Primeira missa no Brasil(1860)


Victor Meirelles(1832-1903)
Batalha dos Guararapes(1879)


Pedro Américo(1843-1905)
Batalha do Avaí(1972/1877)


Tarsila do Amaral(1886-1973)
Auto-retrato(1923)



Cândido Portinari(1903-1962)
Caçador de passarinho(1958)


Cândido Portinari(1903-1962)
Café(1935)




Di Cavalcanti(1897-1976)
Navio Negreiro(1961)





Alfredo Volpi(1896-1988)
Bandeirinhas(1969)





Como ainda havia disposição, pegamos o VLT e fomos para a Praça Mauá. Queríamos ver a sua revitalização, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio.
A praça estava linda, cheia de gente, com música, com bastante segurança. O prédio foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. E achei que ele pode ser considerado uma das várias obras-prima da arquitetura do nosso século.
É lindo de qualquer ângulo que se olhe. A vista a partir dele do mar também é linda.



Museu do Amanhã


Museu do Amanhã


Ficamos um tempo sentados admirando-o e depois fomos conhecer o Museu de Arte do Rio. Lá havia uma exposição sobre Leopoldina, princesa da independência. A exposição reunia aproximadamente 350 peças, entre obras de artes, vestuário, mobiliário e documentos de época



Museu de Arte do Rio


Retornamos exaustos porém satisfeitos com tão rica cultura absorvida em um único dia. 
Para terminar o dia com chave de ouro fomos à noite ao Da Roberta, um foodtruk especializado em cachorro-quente gourmet. Comemos um suddog e uma sudbatata que estavam deliciosos.

No domingo fomos ao Cristo através do transporte oficial, que é feito pela empresa Paineiras que, além de possuir outros pontos de embarque, tem um que fica na praça do Lido, bem próximo de onde nós estávamos. Então a ida foi bem fácil, pagamos 68 reais com tudo incluído (transporte e ingresso). O trajeto é bem bonito, passando pelo bairro de Laranjeiras, pelo Palácio Guanabara e ao chegar lá ficamos felizes com o que vimos. Uma estátua linda, fincada sobre muito verde e com uma vista de tirar o fôlego.
Lógico que estava bem cheio devido aos vários turistas que estavam já chegando para os jogos. Foi bem difícil conseguir uma foto sem ter dezenas de pessoas posando junto. Mas foi tão bom ter estado lá que isso não foi nada!


Estátua do Cristo Redentor


Vista



Depois de voltarmos aproveitamos o resto de dia na orla, compramos um jornal e fomos tomar um café na linda sorveteria Moma que fica embaixo do hotel Copacabana Palace e tem uma vista linda.
Mais tarde fomos em um dos tantos quiosques que ficam na orla e que são bem moderninhos e agradáveis.


Moma


Terminado o passeio, só penso que preciso retornar, e agora a lista é grande, além dos lugares em que já fui e quero retornar, tenho vários outros na lista. Entre eles quero ir no Jardim Botânico, vários outros museus do Centro, na Confeitaria Colombo, no Pão de Açúcar, no Maracanã...
Infelizmente a cidade do Rio, apesar de nos ofertar tantos lugares maravilhosos, é possuidora de uma violência inclemente. Isso me apavora! Não me acostumo com nenhum tipo de agressão à vida. Não sou carioca, mas torço, como se fosse, para que as coisas melhorem e que possamos visitá-la sem que haja uma confluência de fatores. Não apenas numa determinada época. 
Só assim poderei chamá-la de Cidade Maravilhosa